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ARTISTAS SÃO DE VÊNUS: CONVERSA COM LUÍSA MITRE

Foto do escritor: artistassaodevenusartistassaodevenus

A trilha da artista que busca tocar as pessoas através de seu talento.


Foto por Henrique Boccelli.


Luísa Mitre é pianista, compositora, arranjadora e professora de música. Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, a menina que se interessou pelo piano logo na infância passou a ser reconhecida pela sua sonoridade particular, que mistura a técnica da música de concerto com o balanço da música popular brasileira.


Em 2018, Luísa lançou seu primeiro álbum autoral "Oferenda", pelo selo Savassi Festival Records, com um repertório composto por instrumentais próprios e repleto de referências de diferente gêneros da música brasileira. Com este trabalho, juntamente com o seu Quinteto, a artista se apresentou em palcos importantes, como: SESC Jazz, MIMO Festival, Instrumental SESC Brasil, BH Instrumental e Savassi Festival.


Em entrevista com o projeto ARTISTAS SÃO DE VÊNUS: Da Gestação ao Empoderamento, a pianista conta um pouco da sua trajetória, a relevância de sua arte para a sociedade e do seu papel como mulher. Confira a seguir. ♥︎


Conte como foi sua trajetória na música. Quando descobriu esse talento?

Venho de uma família de músicos e apaixonados por música. Meus avós, tios, primos e meus pais ouvem muita música desde sempre, e muitos deles tocam também. Comecei a estudar música muito cedo (pedi para aprender piano aos 7 anos de idade), estimulada por este ambiente musical. Desde então nunca larguei o instrumento, nunca parei de estudar. Da primeira professora que comecei aos 7 anos, passei para um curso de extensão na UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais), depois fiz graduação e mestrado em música na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). A música sempre esteve presente na minha vida de forma muito natural.

Sua família influenciou nessa trajetória? De que forma?

Creio que totalmente! Primeiro, pelo gosto pela música. Viver num ambiente onde a música está sempre presente nos traz pra dentro desse universo de forma natural. Cresci vendo minha mãe tocar flauta junto com os discos de choro e MPB que ela ouvia, vendo meu tio (Kiko Mitre - baixista) nos palcos tocando com muitos músicos em BH, meu pai e meus tios sempre ouvindo e trocando discos em casa e nos encontros de família, meus primos tocando também... Meu avô materno tinha um acervo grande de discos de vinil e sempre gravava nas fitinhas K7 algo novo pra eu ouvir, às vezes algum compositor que eu estava estudando no repertório de piano... E, claro, o incentivo e apoio dos meus pais que sempre deram um jeito de me manter fazendo as aulas de piano, investindo nos instrumentos, ajudando no ambiente de estudo, apoiando as apresentações, etc... Isso fez toda a diferença para que eu pudesse investir nessa carreira.


Foto por Henrique Boccelli/Duo Mitre, formado pela Luísa e sua irmã.

O que a música significa para você?

A música é meu trabalho, meu hobbie, parte grande da minha vida. Eu simplesmente não sei o que fazer se não tiver a música... Penso em música quase o dia todo! E acredito que ela tem um poder grande de nos transformar e nos ensinar várias coisas (disciplina, humildade, criatividade, desapego, e por aí vai...) além de ser um canal poderoso de transmissão de coisas boas para o outro.

O que te motiva a tocar e compor?

O prazer de tocar, de fazer música, e também de tocar as pessoas. Saber que sua música levou um pouco de alegria, de inspiração, de respiro, de coisas boas pra alguém, nem que seja por um breve momento, é o que dá sentido a todo o estudo e dedicação de anos...

Quais as suas fontes de inspiração?

São variadas... Desde algum momento bom que vivi, pessoas que gosto, algum sentimento, alguma outra música que ouvi, um show que assisti...

Como funciona o seu processo criativo? Qual o significado dele para você?

Geralmente começo de maneira mais intuitiva. Fico tocando meio de improviso até achar um motivo ou tema musical... Depois tento planejar a forma e desenvolver a música a partir daquela ideia. Mas sempre tentando “ouvir” o que a música está “pedindo”. É um momento de vazão de sentimentos, ideias, até alguma energia que precisa seguir em um fluxo. E é uma sensação muito boa quando termino e vejo a coisa pronta, como se fosse a materialização de um desejo ou uma sensação de “dever cumprido”.

Quem são as pianistas brasileiras que te inspiram? E por quê?

Várias! Desde Chiquinha Gonzaga, Tia Amélia, Carolina Cardoso de Menezes, até Debora Gurgel, Lea Freire, Tânia Maria, Eliane Elias , Maria Teresa Madeira, Heloisa Fernandes, Délia Fisher, Maíra Freitas, o Duo Gisbranco (Bianca Gismonti e Cláudia Castelo Branco)... Me inspiram pela forma de tocar, pelo repertório, pelas composições, pelos arranjos, pela força que transmitem...

O que te motiva ser uma mulher artista no Brasil?

Acho que não tive escolha. Ser musicista foi o caminho mais natural que trilhei desde a infância e não saberia ser outra coisa. E acredito que nossa profissão é muito necessária na sociedade, sobretudo na do nosso país que é ainda tão carente de valores verdadeiros, de empatia, de sensibilidade, de desapego, de cuidado com o próximo e com o meio ambiente, de consciência do todo... Nossa cultura é riquíssima, diversa, maravilhosa, mas infelizmente a maioria das pessoas não tem acesso a ela ou não a valoriza, não a “consome”, não se apropria dela. Ser artista no Brasil, sobretudo trabalhando com música brasileira, é, de alguma forma, batalhar por essa cultura e por levar mais consciência, sensibilidade e valor humano pras pessoas, e é isso que me motiva.

Já sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher no meio artístico?

Acho que todas nós já, de alguma forma. Me considero até privilegiada por ter passado por pouquíssimos episódios, se comparado com outras colegas. O que eu sinto é que, de forma geral, nós precisamos estar sempre provando a nossa capacidade, nossa competência, e entregando sempre mais que os homens entregariam, para assim garantir nosso lugar, como se precisássemos justificar ou merecer estar ali. E isso é extremamente cansativo e injusto. Mas é o que acontece...

Na sua opinião, qual é o papel da mulher na Música Instrumental?

Acredito que o mesmo dos homens: fazer música. Mas, como somos ainda em menor número nesse nicho, as coisas ficam mais complicadas. Pra uma mulher entrar em um grupo, participar de uma gig, conseguir um trabalho nesse meio, ela tem que se desdobrar e entregar 150% do que os homens entregam normalmente. Infelizmente, só assim ela consegue se inserir e ser respeitada, como falei na pergunta anterior. E dessa forma o papel dela assume outros também: quebrar barreiras, preconceitos, mostrar que a mulher é capaz de ocupar o espaço que quiser. Não é nada fácil, mas esse rompimento é necessário. Um dia as coisas serão melhores, mais equilibradas. Assim eu espero!


Além do trabalho solo, Luísa integra o grupo de choro Toca de Tatu, o Trio Mitre, com sua irmã Natália Mitre e seu tio Kiko Mitre, e o Duo Mitre, também com sua irmã Natália. Em paralelo, ainda tem outros projetos em duo com a flautista Marcela Nunes e com o violonista Lucas Telles.


Acompanhe e apoie o trabalho incrível dessa artista através das redes:


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