A trajetória da abolicionista negra que se tornou a primeira romancista brasileira.
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Ilustração por C. R. Viana.
Maria Firmina dos Reis (1822-1917) foi escritora, poeta, compositora e professora. A maranhense é considerada a primeira romancista do Brasil e sua obra "Úrsula" é precursora da temática abolicionista na literatura do país.
Nascida em São Luís, capital do Maranhão, em 1822, filha de uma mãe branca e um pai negro, a pequena Maria veio a ser registrada três anos mais tarde, somente com o nome da sua mãe, Leonor Felippa dos Reis. Aos cinco anos, ficou órfã e mudou-se para a vila de Guimarães, na baía de Cumã, na casa de sua tia materna, onde foi criada e teve seus primeiros contatos com a literatura.
Maria Firmina tinha uma inteligência admirável e se alfabetizou sozinha. Seu interesse pela leitura era incansável e fez com que a escritora também aprendesse a língua francesa por conta própria. Há relatos de que era uma pessoa muito reservada, porém sua personalidade forte sempre foi notória com seu posicionamento contra a escravidão e a discriminação de gênero nas escolas, que, na época, separava as turmas de meninos e meninas.
Em 1847, ela se tornou a primeira mulher de Guimarães a ser aprovada em um concurso para professora primária. Sua família ficou em êxtase e estava disposta a celebrar. Então, arranjaram um palanquim, espécie de cadeira portátil presa a duas hastes de madeira, que normalmente era carregado nos ombros de escravos, para que Maria Firmina fosse carregada pelas ruas e pudesse receber as homenagens que merecia. No entanto, a artista se recusou, pois não via sentido em ser louvada, enquanto explorava a mão de obra escrava. Decidiu ir caminhando.
Durante sua trajetória na escrita, Maria Firmina contribui com diversos artigos para jornais, além de compor canções clássicas e populares. Quando decidiu iniciar sua produção literária, a estética que estava em alta era o romantismo, levando, naturalmente, a escritora a "beber na fonte" do estilo.
Em 1859, seu primeiro livro, entitulado "Úrsula" é lançado. A autora, porém, assinou com o pseudônimo de “Uma Maranhense” para se enquadrar nas "normas" da invisibilidade feminina que era tradicional na etiqueta literária da época.
“Mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. (...) Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados”.
Início da apresentação do romance, escrito pela própria autora Maria Firmina dos Reis.
A obra é considerada o primeiro romance abolicionista publicado no Brasil. O enredo conta com protagonistas brancos, porém apresenta a visão de personagens negros, narrados em primeira pessoa, sobre as relações opressivas que viviam numa sociedade escravista e patriarcal. Um feito inédito.
Nos anos seguintes, Maria Firmina escreveu o romance "Gupeva" (1861) e publicou o conto "A Escrava" (1887), na Revista Maranhense.
Mesmo com a carreira de autora ganhando força, a escritora não abandonou a educação e, em 1880, foi responsável por abrir a sala de aula mista. Na época, o ato se tornou um escândalo, já que a igualdade de educação para mulheres era considerada bandeira de luta, e acabou sendo fechada em pouco tempo.
Em 1917, Maria Firmina dos Reis faleceu cega e na pobreza, na mesma cidade onde cresceu e atuou durante toda sua vida. Suas obras foram esquecidas por décadas e redescobertas por pesquisadores na década de 1960. Ainda hoje, fala-se muito pouco da importante trajetória da escritora e suas obras não são reconhecidas pelo público de forma merecida.
A história dessa mulher negra, filha ilegítima e autodidata, que cresceu numa cidade no interior do Maranhão, ultrapassou todas as barreiras sociais, raciais e de gênero para se tornar um grande expoente da cultura maranhense. Maria Firmina dos Reis, com seu posicionamento libertário e avançado, foi pioneira na literatura e educação do nosso país. Sua contribuição para a arte brasileira é inspiradora, representativa e potente. Viva, Maria Firmina dos Reis! ♥︎
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