A história por trás da primeira caricaturista brasileira.
![](https://static.wixstatic.com/media/04cd67_56fd8e07777f4755b8fbf668ac79b41d~mv2.png/v1/fill/w_980,h_980,al_c,q_90,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/04cd67_56fd8e07777f4755b8fbf668ac79b41d~mv2.png)
Foto: Fundo Correio da Manhã
Nair de Teffé (1886-1981) foi pintora, caricaturista, musicista, atriz e escritora brasileira. Ainda criança, sua família se muda para França, onde é criada e dá início aos seus estudos de pintura. É lá também onde inicia suas caricaturas, retratando a elite francesa. Com seu retorno ao Brasil, a artista publica sua primeira caricatura e se torna a primeira caricaturista mulher do país e, possivelmente, do mundo.
Nascida na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 1886, filha do barão de Teffé, conhecido como o herói da Guerra do Paraguai, e de Marie Louise Dodsworth, com apenas um ano e meio, Nair mudou-se para a Europa com a família. A artista morou na França, Itália e Bélgica, e foi nestes países que ela aprendeu a falar diversas línguas, desenvolveu seu gosto pelo desenho e frequentou cursos de pintura.
Tudo começou quando ela tinha apenas nove anos e era estudante de um convento na França e, segundo a própria artista, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, em 1969, "por achar o nariz de uma das freiras muito comprido, desenhei-o num papel, o que fez as meninas rirem muito". A travessura de Nair não foi vista com bons olhos pela madre superiora e ela acabou ficando de castigo em um quarto escuro durante oito horas. Algumas situações semelhantes aconteceram em família, quando a caricaturista decidia retratar os visitantes da família. Como foi o caso da Madame Carrier, amiga da família, em que Nair foi obrigada a escutá-la durante duas horas sobre cozinha, tema no qual a artista detestava. O resultado não poderia ser outro: uma caricatura da mulher que a importunou. E, ao mostrar para os pais, acabou sem a sobremesa do jantar como punição à sua indisciplina.
Anos mais tarde, a artista retorna com a família ao Brasil para a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Notando as habilidades artísticas da filha, seu pai a incentivou e ela se debruçou na caricatura, retratando os membros da elite que sempre frequentavam a sua casa. Neste período, Nair adotou o pseudônimo de Rian (seu nome de trás para frente) e, em 1909, ela publica sua primeira caricatura, intitulada "A Artista Rejane", na revista Fon-Fon.
![](https://static.wixstatic.com/media/04cd67_fb745fd767da45df966d1e5e793530be~mv2.jpg/v1/fill/w_334,h_550,al_c,q_80,enc_avif,quality_auto/04cd67_fb745fd767da45df966d1e5e793530be~mv2.jpg)
Primeira caricatura da artista, publicada na revista Fon-Fon! em 31 de julho de 1909.
Sempre bom muito bom humor, a artista alcançou sucesso com desenhos de personalidades da belle époque do Rio de Janeiro e publicados em meios de comunicação de prestígio, como "Gazeta de Notícias", "Careta", "O Malho" e "Revista da Semana". E sua notoriedade foi além do Brasil, alcançando também publicações em Paris, na França. Um deles, inclusive, convidou Nair para se tornar colaboradora fixa e se mudar para lá, porém, ela foi impedida pelo pai, que alegou estar velho e doente. Mesmo sendo o principal incentivador da artista no início da carreira, ela não podia receber por seus trabalhos, já que isso significaria a liberdade financeira de uma mulher e a redução do controle dos pais na vida da filha, que estava sendo criada para um bom casamento.
Mesmo vivendo sob uma criação tradicional aristocrática, Nair sempre buscava quebrar os padrões. Ela foi considerada uma das primeiras mulheres a usar calças compridas no Brasil, peça considerada masculina; além de montar a cavalo de pernas abertas, o que era inconcebível para uma dama.
Aos 27 anos, a artista se casou com o marechal Hermes da Fonseca, presidente do país. Logo, todos os holofotes viraram-se para Nair, que era 30 anos mais nova que Hermes, e casava-se com um recém viúvo. A fama de suas caricaturas e seu comportamento geraram a alcunha de "primeira-dama moderninha". Mas nada disso fez com que Nair seguisse com seu trabalho e deixasse de frequentar o Bar do Jeremias, reduto de boêmios, músicos, intelectuais e local proibido para mulheres. Seu gosto pela música, proporcionou o momento inédito, até então, de uma primeira-dama tocar música popular no Palácio do Catete.
Com o fim do mandato de Hermes da Fonseca, o casal vai para a Europa, mas retorna em 1921 para a participação da Semana de Arte Moderna, em 1922. No ano seguinte, Hermes falece e Nair volta a morar em Petrópolis, Rio de Janeiro. Anos mais tarde, ela é eleita a presidente da Academia de Ciências e Letras, entra para a Academia Fluminense de Letras e também se torna presidente da instituição. Com a morte de seus pais, em 1930, Nair decide mudar-se para a cidade do Rio de Janeiro. A partir daí, a artista finalmente se torna gestora de sua própria herança. Mesmo com as dificuldades, ela consegue erguer o Cine Rian, em Copacabana, cinema que resistiu até 1983, sendo demolido posteriormente.
Aos 70 anos de idade, Nair voltou a fazer caricaturas de figuras políticas como Jânio Quadros, Juscelino Kubitschek e Fidel Castro. Anos depois, a artista escreveu sua autobiografia"A Verdade sobre a Revolução de 1922".
"Comecei invertendo meu nome. Ponha aí no jornal que eu faço noventa anos com o zero à esquerda. Na realidade sou uma eterna menina de nove anos".
Trecho da entrevista de Nair de Teffé ao jornal O Globo.
No dia em que completaria 95 anos, Nair faleceu em decorrência de uma infecção pulmonar, agravada por insuficiência cardíaca. Após sua partida, algumas homenagens foram realizadas para a artista, como o Centro Artístico Rian e Exposição Nair de Teffé - A Primeira-Dama da Caricatura.
A trajetória de Nair de Teffé é referência para as futuras gerações de artistas e sua vida é inspiração para todas as mulheres brasileiras! Viva Nair! ♥︎
Conheça mais sobre a artista em:
Comments