A trajetória de uma estilista que lutou em busca do filho até o fim da vida.
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Foto por Ronaldo Câmara / acervo Instituto Zuzu Angel.
Zuzu Angel (1921-1976) foi uma das maiores estilistas brasileiras. Sua carreira iniciou no final dos anos 1950 e passou a ser reconhecida internacionalmente nos anos 1970. Seu estilo representava o Brasil, seja nas cores tropicais ou nos materiais utilizados. Ela misturava seda com fita, renda e chitas de temas regionalistas e estampas de animais. Além de trazer pedras brasileiras, conchas e até madeira para a moda. O resultado foi o sucesso dessa estilista nas vitrines de lojas no Rio de Janeiro e Nova York.
Zuleika Angel Jones nasceu na cidade de Curvelo, Minas Gerais, mas logo se mudou para a capital mineira, Belo Horizonte. Foi lá que cresceu e já demonstrava interesse pela costura, tendo suas bonecas como primeiras "clientes". Ainda jovem, Zuzu conheceu o norte-americano Norman Angel Jones, com quem se casou. Anos depois, o casal se mudou para a Bahia e lá tiveram o primeiro filho, Stuart. Mais tarde, foram para o Rio de Janeiro, onde a família se estabeleceu e cresceu com a chegada das filhas Ana Cristina e Hildegard.
No final dos anos 50, ela inicia seu trabalho profissional com a costura, abrindo um ateliê dentro da sua própria casa e dando vida ao "Zuzu Saias". Em 1960, Zuzu se separa de seu marido e passa a criar os filhos e sustentar a casa sozinha. Mas nada disso fez com que Zuzu abandonasse sua carreira na moda, muito pelo contrário, no início da década de 70, a estilista passou a ficar conhecida e abriu a sua loja em Ipanema, no Rio de Janeiro. E a partir daí, sua projeção passou a ser internacional e suas peças foram parar em vitrines de lojas importantes dos Estados Unidos.
No auge de uma trajetória de sucesso, a vida de Zuzu foi marcada pelo trágico assassinado do filho Stuart, em 1971, vítima da ditadura militar. A partir do momento que Stuart desapareceu após ter sido preso por agentes do CISA (Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica), a vida de Zuzu se transformou em uma verdadeira batalha em busca de informações sobre o paradeiro de seu filho.
"Como não viver o drama de outras mães que não tinham coragem ou, às vezes, nem tinham dinheiro para sair pelo mundo gritando, como eu fazia para procurar o filho desaparecido, isto é, assassinado na tortura? Que todo mundo sabia e fingia que não sabia: torturado e assassinado [...] nessas milhares de masmorras que a ditadura criou por todo o Brasil".
Trecho do livro "Eu, Zuzu Angel, procuro meu filho.
No mesmo ano, Zuzu realizou um desfile, em tom de protesto, no Consulado Brasileiro em Nova York. Ela definia como "a primeira coleção de moda política da história". Suas peças utilizavam elementos como canhões, tanques de guerra, pássaros engaiolados, que denunciavam a situação política do Brasil. Esse foi só o início da sua luta, que durou até seus últimos dias de vida.
Desde a morte do filho, Zuzu não teve mais um minuto de paz e, em abril de 1976, ela morreu, vítima de um acidente de carro, na Estrada da Gávea, ao sair do Túnel Dois Irmãos (que hoje leva o nome de Zuzu Angel), no Rio de Janeiro. Na ocasião, o governo divulgou que Zuzu teria dormido ao voltante. No entanto, ela foi assassinada por agentes da ditadura militar. A Justiça Brasileira somente reconheceu a culpa do Estado na morte de Zuzu Angel este mês (julho de 2020) e irá indenizar suas filhas.
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Foto: Bilhete de Zuzu entregue a artistas e intelectuais próximos /
acervo Instituto Zuzu Angel.
Após a morte de Zuzu, ela recebeu diversas homenagens, como a música "Angélica"(1977), composta por Chico Buarque e Miltinho, do grupo MPB-4; o livro "Eu, Zuzu Angel, Procuro Meu Filho"(1986), de Virginia Valli, irmã de Zuzu; o filme "Zuzu Angel"(2006), dirigido por Sérgio Rezende e protagonizado por Patrícia Pillar; o samba-enredo "Quem É Você, Zuzu Angel? Um Anjo Feito Mulher?" (1998), da escola de samba Em Cima da Hora; e o livro infantil "Zuzu" (2019), do autor David Massena.
Também surgiu, em 1993, o Instituto Zuzu Angel de Moda da Cidade do Rio de Janeiro, que busca difundir a moda brasileira, seus profissionais e a memória dos Angel. E a Casa Zuzu Angel abriga todo seu acervo de moda e seu histórico de luta na busca pelo filho. Que seu legado na moda e memória como mulher e mãe continuem inspirando muitas gerações! ♥︎
Acompanhe o legado dessa mulher incrível no site oficial do Instituto:
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